talvez um dia

19:26


Em que estátua te transformaste, Peter, em que boneco imóvel, pintado!  Todas estas tardes de sol - esta eterna tarde de sol - aqui nos sentamos juntos nesta varanda. Eu, cansada, escrevia mais uma pagina do meu livro, e tu , de calções apanhando banhos de sol, mas sem reparares nem no sol, nem nas árvores, nem nesta belíssima paisagem de Atenas, nem sequer virando um pouco a cabeça para te lembrares que estou junto a ti, Peter, se me dirigires uma palavra que for, eu reparo. Estou atrás de ti Peter atenta a cada passo teu, enquanto tu, debruçado no parapeito branco, exibes os teus músculos sem mostrares qualquer pudor. Mas, eu não existo, Peter. O facto é que ela esta por casa, e, por isso, começas a agir de maneira diferente, isolas-te de tudo, e principalmente de mim. Ela provoca-te um efeito completamente devastador.
O Peter, que dantes conheci, desvaneceu.
Sinto-me vazia, sozinha, perdida e sem qualquer rumo. Peter, acorda desse hipnotismo, eu necessito de ti, podias, apenas, olhar 1 minuto para mim, e, sorrires.
Ficas aqui preso, só para a ver chegar. Aquele corpo para ti não tem segredos: conheces-lhe a cicatriz na barriga, a sua tatuagem, os seus gostos sexuais.
E agora, pergunto eu, será que ela repara em ti? Como eu reparo? São perguntas as quais nunca me irás responder, porque mudas-te, sim, mudas-te.
Ainda me lembro, uma vez havias-me prometido, que nunca me irás deixar.

Onde estás tu agora? - é a pergunta que mais tenho feito ao longo deste tempo - partis-te, embora que, o teu corpo ainda esteja comigo, mas, o teu pensamento está noutro lugar, decerto na casa da frente.
Nunca reparas-te, nem irás reparar. Se algum dia voltares a acordar, eu estarei aqui, para ti...


Adeus Peter

P.s-> Talvez um dia me percebas.

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